2009/10/16

Pop Montreal parte 1

Bequilles, Crutches, Muletas. Aventuras quebradas na cidade poliglota. Foto: Lu.





Perguntaram por que eu não tinha seguro saúde de viagem. Eu tinha. Isso não significou grande coisa, na prática, fora o ressarcimento do valor gasto com meu pé quebrado em Montreal. A dor foi a mesma. Mas eu não deixei o incidente estragar minha aventura canadense. Fui forçado a fazer um tipo de viagem diferente da que estou acostumado. Eu no fundo achava que nem seria tão diferente assim. Munido de um par de muletas ultra-modernas e muy confortáveis, no dia seguinte saí pela cidade com a Lu numa tarde ensolarada, pra cima, sempre pra cima. Ela queria fotografar a vila olímpica, eu, andar numa trilha ao lado da torre para examinar as árvores que mudavam de cor nesse começo de outono. Ao final do dia, agradeci a mim mesmo por ter feito musculação o ano inteiro.


Um trajeto que me tomaria trinta minutos durou uma hora, sem descontar as paradas de descanso, porque os pulsos de alguém a base de muletas são os que mais sofrem. Os braços aguentaram o tranco, mas ficou bem claro no final do dia que eu teria que lidar com um tipo de cansaço físico para qual nenhum academia consegue te preparar. Acabei não conseguindo ir no Butthole Surfers com a Lu. Dizem que foi um dos melhores shows do festival. Tentei não me abater e enquanto ela tirava fotos com sua credencial louca, entornei cervejas canadenses com meus amigos Adeline e Rafael em seu apartamento.

Butthole Surfers. A Lu viu e fotografou.

No dia seguinte, caminhamos pela cidade velha e comemos o famoso rabo de castor (uma espécie de bolinho da chuva). Muitas cervejas e cápsulas de advil mais tarde, encontramos o recém-chegado Amexa, que tocaria baixo conosco em Toronto, mais Xuxu e Zimmer, para assistir alguns shows legais do Pop Montreal. O nosso, duas noites antes, tinha sido muito bom.

No Le National, lugar muito bonito e decente, os locais Aids Wolf mandaram ver com muito noise punk, uma bateria nervosa, um baixo distorcido, teclado e apetrechos insurdecedores e a vocalista Special Deluxe enlouquecendo a multidão. Muito instrutivo. Depois a excelente local Duchess Says - a noite era de mulheres atacadas, e a vocalista não hesitou em surfar a multidão. Mais educativo ainda foi o set de Teenage Jesus and the Jerks, banda que nos anos 70 usou o formato baixo-bateria-guitarra do rock contra ele mesmo, orquestrando a No Wave e pavimentando o caminho para que gente como Thurston Moore e seu Sonic Youth pudesse fazer o que bem entendesse com seus instrumentos. Tanto que até hoje, Lydia Lunch não sabe tocar um acorde sequer em sua guitarra estridente. Foi um tremendo show de atitude e coerência de uma turma que merece muita reverência de qualquer inconformado com o estado das coisas na música pop ocidental. Foi, nas palavras do Zimmer, lindo.



Duchess Says: grande show. Foto da Lu.

Teenage Jesus & The Jerks - instrutivo. Foto Lu.

No dia seguinte, teríamos nosso encontro com o Faust em workshop e show. E também uma sessão de beijos, abraços e boas memórias sobre Curitiba com Ian Svenonious, o homem Make Up/Weird War e Chain & The Gang. Vou ver se Deus está na esquina e já volto.

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