2006/11/28

Enfim Patagonia


Vento cortante e frio que chega como um vagao de trem, paisagens dramáticas do verde das coníferas, dos arrayanes - árvores com troncos bem vermelhos - e da neve nos picos andinos, que esse ano tardam em derreter por causa de um inverno muito bom para quem esquiou e fez snowboard, mas um tanto inconveniente para quem quer agora nesse fim de primavera caminhar nas montanhas, como nós. Um céu azul forte, que queima os rostos e esquenta os ossos até as nuvens pesadas esconderem o sol. Estamos na Patagonia, na badalada e especial Bariloche. Chegamos hoje às 11h. Depois de nos instalarmos numa pousada no centro, levantamos informacoes sobre as trilhas no parque e os refúgios no Club Andino e fizemos o Circuito Chico, uma caminhada leve que passa por lagos com vistas bonitas para as montanhas. Na Quarta caminharemos com pernoite perto dos refúgios. Nao dá pra ir muito longe: a neve nao deixa. O fumacê dos vulcoes também esta nos chamando atencao. Talvez atravessaremos a fronteira para caminhar em volta do Puyehue, um belo vulcao do lado chileno.
Voltando um pouco no tempo: a viagem de Buenos Aires para Bariloche de ônibus (21h) foi pouco cansativa. Também, pegamos os assentos panorâmicos no segundo andar, bem na frente do carro. Durante a monótona porcao do pampa argentino, quando parece que você roda e roda mas parece que nao saiu do lugar porque é tudo igual, ficamos impressionados com a quantidade de pássaros brincando de dar rasante na frente do ônibus - talvez seu esporte radical - e os bois pastando e me deixando com água na boca (aqui voltei ao modo carnívoro com forca total, comi carnes maravilhosas, nao dá para escapar, a carne é excelente). Um pássaro grande nao identificado deu de cara com o para brisa a meio metro de nossos rostos, quase nos matando de susto. Ele nao sobreviveu.

Primeiro vídeo patagônico da temporada:


2006/11/25

La Boca e outras.



Tenho que concordar com meu amigo Torrone. La Boca é mesmo o bairro mais fake de Buenos Aires. Viemos caminhando de San Telmo por umas quebradas pontuadas por sujeira, pobreza e uns sujeitos estranhos de olho na minha câmera até entao pendurada no pescoço. Essa meia hora de caminhada foi um dos pontos altos de nossa estadia. Vimos aquilo que a maioria dos visitantes nao querem nem saber da existência: a verdadeira face de uma cidade grande. Pessoas relaxadas num Sábado de manha tomando cervejas nos bares, senhoras fazendo fila nos mercadinhos abarrotados de produtos de terceira (alguns de primeira, como tomates bem vermelhos), crianças brincando na rua, pivetes mal encarados aqui e ali, cheiro de frago assado saindo pelos cantos e portas e janelas. De repente, tudo isso mudou. Havíamos chegado na La Boca dos ônibus de turismo, das excursoes que fazem fila para tirar foto fazendo pose com dançarinos de tango visivelmente de saco cheio, dos restaurantes caros e das atraçoes fabricadas pra gringo ver. Apesar disso, o colorido das casas cai bem aos olhos e a regiao portuária é bem interessante. Se eu gostasse de futebol, teria ficado emocionado por estar na terra do Boca Juniors, maradona & cia, mas isso nao aconteceu. A Lu quis fotografar uns senhores jogando dado e eles pediram uma moeda para isso (de uma maneira bem veemente).

A Lu me autorizou a contar uma história que se passou em nosso segundo dia aqui. Estávamos caminhando na Costanera Sur, um parque à beira do rio. Animados com a cerveja local Quilmes, nao hesitamos muito em pagar 10 Pesos por uma garrafa (o preço no mercado é $ 3) de um vendedor ambulante oportunista para saciar nosso desejo. Sentamos num passeio à entrada da reserva e tomamos alguns goles da garrafa, envolta num plástico preto (dizem os locais que pega mal beber ao ar livre por aqui, por isso todo mundo continua bebendo, mas esconde o casco em bolsas de plástico). Depois de três goles, Lu se sentiu levemente desarranjada. Nao é fácil manter a regularidade intestinal numa viagem de 31 horas de ônibus, e ela só voltou ao seu ciclo normal naquele momento, de modo que nao conseguiria adiar (ela nao pode se dar a esse luxo). Mas nao avistamos banheiros por ali. Por isso, entramos no mato perto da entrada do parque, um lugar cheio de lixo, lagartos e muitos mosquitos. Por sorte, tínhamos P. Higiênico à mao. Foi tudo bem rápido e limpo, usamos nossos conhecimentos mateiros para nao deixar vestígios. O problema é que os mosquitos e pernilongos nos atacaram e nos preocupamos um pouco com aquela história da cidade ter se mudado de San Telmo, ali perto, para mais ao norte por causa de focos de febre amarela. Ficamos calmos quando nos certificamos que isso aconteceu há mais de 100 anos e que nao corríamos mais perigo. O pior foi descobrir um banheiro limpo dentro do parque. Coisas da vida.
Hoje caminhamos muito, como de costume, e eu tive que comer um bife de Chorizo inesquecível. Por sugestao do já citado Torrone, fiz um revival gótico no cemitério da Recoleta (foto acima), onde Evita Perón e outros dignatários estao enterrados. Falei com meus novos amigos músicos do Los Alamos, mas nao nos animamos em conhecer os muquifos roqueros daqui nessa noite de Sábado. Estamos cansados e amanha nos mandamos para Bariloche. O video que coloquei aqui é apenas um teste, uma gravaçao tosca feita no café Tortoni, lugar outrora frequentado por JL Borges. Agora que estou aprendendo a fazer isso, prometo colocar outros mais elaborados e interessantes.




2006/11/24

Lu e Cassim al Sur



Como quase em todas as minhas viagens, as imagens acabam sendo um problema: ou ficam ruins, como essa do lado (culpa de um equipamento limitado e de falta de paciência com os manuais), ou se perdem para sempre. De qualquer forma, o que vale é a intençao.
Chegamos bem em Buenos Aires na última Quarta, depois de uma viagem cansativa mas muito interessante. É claro que a jovem mae e sua filha de 11 meses sentada ao nosso lado (lindo nome Chiara, menina peruana guapa e simpática) se encantaram com a Lu, e nós acabamos dando uma força para elas quando a mae precisava ir ao banehiro ao a filha queria se divertir um pouco com estranhos. Ir de ônibus de Curitiba a Buenos Aires num ônibus ruim seria péssimo se nao fosse esse tipo de interaçao. Leslie, a mae, casada com um brasileiro, mora em Sorocaba mas estava indo para o Peru via Buenos Aires para passar o fim de ano com a hija. Ela e seu companheiro trabalham em navios de cruzeiro e conheceram o mundo. Leslie nos deu boas idéias de como viajar sem gastar (como dizia aquele filme argentino, "Viajar sin diñero, marinero").
Grande parte da jornada Ctba- Bs As se passa no Brasil, país que nao acaba mais, principalmente no estado do RS, um pampa interminàvel onde todos os postes tem casas de joao de barro.
Chegamos na cidade e depois de umas voltas pelo centro, onde nos instalamos num hotel barato ($ 55, aproximadamente R$ 38 o quarto de casal con baño privativo), limpo e bem localizado, nos mandamos para um show gratuito e ao ar livre no Bs As Design com as bandas Doris e meus novos amigos Los Alamos, uma espécie de folk rock badfôlkico argentino muito bom. Os caras me trataram bem e mostraram conhecimento e respeito pelo Brasil. Grandes shows. Infelizmente, a câmera digital, que na verdade é a câmera de vídeo de meu pai(mal) adaptada para este propósito estava sem bateria e a Lu ainda nao tinha comprado a sua, entao vocês terao que acreditar que o show foi otimo e impressionante, com tintas Neil Young-My Bloody valentine-Bob Dylan, dois multinstrumentistas tocando gaita, bandolin e sanfona e um guitarrista chegado ao reverb. Realmente incrível. Quando me apresentei, levei o tradicional beijo no rosto argentino de todos os integrantes e ouvi deles muitas expectativas sobre seu disco lançado no Brasil por Gui Barrela & Co.
No dia seguinte, caminhamos muito, uma preparaçao para a patagônia talvez, da Costera, uma reserva pantaneira na margem do Rio Del Plata com muitos pássaros. De lá, navegamos pelas ruas de San Telmo e acabamos num bar bem legal chamado El Hipopotamo, onde tomamos Sidra (boa e barata) e comemos tortillas e ensalada (idem). Olha a foto da Lu láem cima. A noite, encontramos nosso amigo local Sebastián, grande figura (literalmente, já que tem 2 metros de altura) e voltamos para San Telmo, onde comemos empanadas e tomamos cervejas e mais cervejas. Sebastián anda trabalhando muito e aproveitou a oportunidade para relaxar e nos explicar uma coisinha ou duas sobre o caráter dessa cidade, uma espécie de lugar em extinçao na América do sul onde ainda se vive com certa segurança e com muita literatura, música e artes em geral democrática (no bom sentido). Apesar de tomarmos uns tragos bem no coraçao de toda a cultura tango, nao vimos nada do tipo. Hoje, sexta, a Lu comprou sua câmera com muito esforço (problemas com cartao de crédito) e pode ser que a qualidade das fotos melhore sensivelmente nos próximios posts. Depois pegamos o Subte (Metrô) até Palermo e caminhamos e caminhamos até há pouco. Tivemos que fazer algumas coisas óbvias, como visitar o café Tortoni (onde o grandessíssimo e um dos prediletos da casa Jorge L. Borges passava um bom tempo) e comer bife de chorizo na Calle Lavalle (eu, claro, a Lu é vegetariana, para o estranhamento geral da naçao argentina) a poucos passos de nosso hotel.
Esse lugar é realmente surpreendente, arquitetura surpreendente, cortes de cabelo que sao um elo perdido entre o cool e o brega, o melhor sorvete do mundo (Fredo, dá-lhe caloria), shows de grupos modernos de tango (só música, sem dança) imperdíveis, uma cultura rock anos luz à frente de grande parte do mundo ocidental e um calor que é quase insuportável.
Como dizia Carlos Tripoli: e até mais!