2006/11/25

La Boca e outras.



Tenho que concordar com meu amigo Torrone. La Boca é mesmo o bairro mais fake de Buenos Aires. Viemos caminhando de San Telmo por umas quebradas pontuadas por sujeira, pobreza e uns sujeitos estranhos de olho na minha câmera até entao pendurada no pescoço. Essa meia hora de caminhada foi um dos pontos altos de nossa estadia. Vimos aquilo que a maioria dos visitantes nao querem nem saber da existência: a verdadeira face de uma cidade grande. Pessoas relaxadas num Sábado de manha tomando cervejas nos bares, senhoras fazendo fila nos mercadinhos abarrotados de produtos de terceira (alguns de primeira, como tomates bem vermelhos), crianças brincando na rua, pivetes mal encarados aqui e ali, cheiro de frago assado saindo pelos cantos e portas e janelas. De repente, tudo isso mudou. Havíamos chegado na La Boca dos ônibus de turismo, das excursoes que fazem fila para tirar foto fazendo pose com dançarinos de tango visivelmente de saco cheio, dos restaurantes caros e das atraçoes fabricadas pra gringo ver. Apesar disso, o colorido das casas cai bem aos olhos e a regiao portuária é bem interessante. Se eu gostasse de futebol, teria ficado emocionado por estar na terra do Boca Juniors, maradona & cia, mas isso nao aconteceu. A Lu quis fotografar uns senhores jogando dado e eles pediram uma moeda para isso (de uma maneira bem veemente).

A Lu me autorizou a contar uma história que se passou em nosso segundo dia aqui. Estávamos caminhando na Costanera Sur, um parque à beira do rio. Animados com a cerveja local Quilmes, nao hesitamos muito em pagar 10 Pesos por uma garrafa (o preço no mercado é $ 3) de um vendedor ambulante oportunista para saciar nosso desejo. Sentamos num passeio à entrada da reserva e tomamos alguns goles da garrafa, envolta num plástico preto (dizem os locais que pega mal beber ao ar livre por aqui, por isso todo mundo continua bebendo, mas esconde o casco em bolsas de plástico). Depois de três goles, Lu se sentiu levemente desarranjada. Nao é fácil manter a regularidade intestinal numa viagem de 31 horas de ônibus, e ela só voltou ao seu ciclo normal naquele momento, de modo que nao conseguiria adiar (ela nao pode se dar a esse luxo). Mas nao avistamos banheiros por ali. Por isso, entramos no mato perto da entrada do parque, um lugar cheio de lixo, lagartos e muitos mosquitos. Por sorte, tínhamos P. Higiênico à mao. Foi tudo bem rápido e limpo, usamos nossos conhecimentos mateiros para nao deixar vestígios. O problema é que os mosquitos e pernilongos nos atacaram e nos preocupamos um pouco com aquela história da cidade ter se mudado de San Telmo, ali perto, para mais ao norte por causa de focos de febre amarela. Ficamos calmos quando nos certificamos que isso aconteceu há mais de 100 anos e que nao corríamos mais perigo. O pior foi descobrir um banheiro limpo dentro do parque. Coisas da vida.
Hoje caminhamos muito, como de costume, e eu tive que comer um bife de Chorizo inesquecível. Por sugestao do já citado Torrone, fiz um revival gótico no cemitério da Recoleta (foto acima), onde Evita Perón e outros dignatários estao enterrados. Falei com meus novos amigos músicos do Los Alamos, mas nao nos animamos em conhecer os muquifos roqueros daqui nessa noite de Sábado. Estamos cansados e amanha nos mandamos para Bariloche. O video que coloquei aqui é apenas um teste, uma gravaçao tosca feita no café Tortoni, lugar outrora frequentado por JL Borges. Agora que estou aprendendo a fazer isso, prometo colocar outros mais elaborados e interessantes.




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